Pacientes retomam sensibilidade e autonomia após transplante de células-tronco
Pacientes
que receberam transplante de células-tronco têm conseguindo recuperar a
sensibilidade e a autonomia diante de funções consideradas simples para
quem não tem problema, mas extremamente importantes como controlar a
urina e as fezes
Cinco meses. Esse foi o tempo entre o
transplante de células-tronco e a recuperação da sensibilidade das
pernas e costas do estudante paulista Bruno Esteves Sanchez. Há cerca de
dois anos, ele foi vítima de um acidente de moto que provocou uma lesão
na coluna vertebral. Nas previsões mais otimistas, os médicos
acreditavam que ele voltaria, no máximo, a conseguir ficar sentado.
Nesta terça (27), durante a inauguração
do Centro de Estudo e Pesquisa em Reabilitação do Hospital Espanhol,
Bruno mostrou os resultados do tratamento iniciado em outubro passado:
ele senta, controla os espasmos respiratórios e musculares, consegue
sentir o toque nas costas e pernas, além de conseguir levantar.
O progresso do jovem foi acompanhado
pela equipe de reportagem do CORREIO, que publicou na Coluna Saúde, em
novembro, as primeiras notícias um mês após a cirurgia.
Para quem achou que passaria o resto dos
seus dias numa cama, Bruno já pensa, inclusive, em retomar sua vida na
universidade. “Na época do acidente não conseguia nem levantar da cama.
Por causa da lesão, eu tinha acessos respiratórios e musculares que
comprometiam minha respiração e fala”, lembra ele, com um sorriso
vitorioso de quem já superou a pior fase.
progressos Atualmente, em maior ou menor
grau, todos oito pacientes que realizaram o transplante têm percebido
melhoras nos seus quadros clínicos, conseguindo recuperar a
sensibilidade e a autonomia diante de funções consideradas simples para
quem não tem problemas de mobilidade, mas extremamente importantes como
controlar a urina e as fezes.
Em abril, a equipe espera iniciar o
tratamento em mais seis pacientes e, ao longo do ano, chegar a 20
pacientes contemplados. A pesquisa, ainda em fase inicial, começou em
2010, conta com o financiamento do Ministério da Saúde e tem como
parceiros a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Hospital Espanhol e o
Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael (CBTC).
Para a fisioterapeuta e coordenadora do
Centro do Espanhol, Ana Martinez, com a abertura desse espaço, a
pesquisa consegue duplicar a capacidade de tratamento. Os pacientes
transplantados passam a contar com o Centro do Espanhol e a Clínica de
Reabilitação da Estácio-FIB, no Stiep.
“Procuramos dotar os espaços com a
estrutura necessária para que o desenvolvimento do tratamento aconteça
da melhor forma possível”, esclareceu a fisioterapeuta, destacando que o
centro tem equipamentos que auxiliam no desenvolvimento de técnicas
modernas da fisioterapia, como exercícios interativos com jogos
eletrônicos, a exemplo do Kinect e a wiiterapia, da Nitendo.
Inovações
O ‘milagre’ alcançado pelos oito
transplantados foi conseguido graças à junção entre duas inovações
baianas: a terapia com células-tronco aplicada em trauma raquimedular e a
técnica de fisioterapia chamada de Kinesioplasticidade.
Segundo a fisioterapeuta Cláudia Bahia,
uma das responsáveis pelo desenvolvimento da nova técnica, uma vez que o
paciente recebe o transplante de células-tronco, elas começam a se
multiplicar regenerando a área lesada. “A partir daí, pegamos essas
células e, por meio de postura e exercícios específicos, ensinamos essas
células a executarem novamente o movimento perdido”, esclarece.
É claro que a meta de Bruno e dos demais
é retomar o movimento das pernas. No entanto, o ganho da qualidade de
vida e da independência já são comemorados como vitórias importantes.
Força
Natural de Ituberá, no Baixo Sul baiano,
o estudante Marlon Silva Viana,23 anos, perdeu o movimento das pernas
em 2009, num acidente de moto. Em 5 de dezembro passado, ele foi
submetido ao transplante.
Três meses apenas após o início do
tratamento, ele recuperou a sensibilidade das pernas, ganhou força
suficiente para ficar de pé, ganhou a noção do impacto de passos e
toques nos ossos e conseguiu controlar a bexiga. “Os ganhos foram muitos
e em pouco tempo, estou confiante no que ainda vou conseguir de
recuperação”, comemora.
O método de transplante de células
tronco começou a ser estudado na Bahia há seis anos, por pesquisadores
da Fundação Osvaldo Cruz e dos hospitais Espanhol e São Rafael.Os
estudos iniciais mostraram que cães e gatos que receberam injeções
dessas células recuperaram parte dos movimentos perdidos.
Pacientes vêm de outros estados
Sérgio Alencar de Castro, 37 anos,
também esteve na inauguração do Centro. Em julho de 2010, no banco de
trás de um automóvel e sem cinto de segurança, ele – que morava em Minas
Gerais – foi vítima de um acidente e teve lesão na coluna vertebral em
nível 5.
Depois de um ano de reabilitação do
Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, ele se candidatou e foi
escolhido para participar do transplante de células- tronco na Bahia.
Para conseguir a qualidade de vida já
alcançada pelos demais transplantados, ele já fez a coleta das células e
aguarda o procedimento cirúrgico para iniciar o tratamento
fisioterápico que consiste em uma etapa inicial que dura 60 dias,
intensivamente, nos turnos matutino e vespertino. Como os pacientes que
vieram de fora, Sérgio transferiu sua vida para a capital do estado para
conseguir acompanhar o tratamento fisioterápico e participar das
avaliações médicas.
Inovações
Outra paciente que também se transferiu
para a Bahia foi Rejane Cantídio,34. Natural de Tocantins, ela sofreu um
acidente de carro, em 2006, que resultou numa lesão medular. Por meio
de um programa de TV, Rejane soube que a esperança de retomar sua vida
podia estar na Bahia e não titubeou em se transferir para o estado.
Agora, ela aguarda sua vez para realizar o transplante.
Terminada a etapa de implantação das
células-tronco, Cláudia Bahia e sua equipe trabalham mais 120 dias,
apenas em um turno, aprimorando o conhecimento do movimento. “A base do
processo consiste em reativar a memória do movimento que havia antes da
lesão e ensinar às novas células presentes na medula como se executa o
gesto”, diz a fisioterapeuta, destacando que os movimentos treinados são
o rolar, engatinhar e andar.
“Ao final de 180 dias, buscamos
relembrar ao corpo toda a possibilidade de mobilidade esquecida”, diz a
fisioterapeuta que, ainda nesse primeiro semestre, deve lançar junto com
a também fisioterapeuta Thaís Miranda, um livro abordando o novo método
criado especificamente para os transplantados.
Técnica pioneira retira células-tronco da região da bacia
Primeira capital do Brasil, sede da
primeira Faculdade de Medicina no país, Salvador também foi o lugar
escolhido para a realização do primeiro transplante de células-tronco em
paciente com trauma raquimedular, utilizando a técnica de cultura de
células mesenquimais do país.
A técnica que utiliza a cultura de
células-tronco mesenquimais consiste na retirada, por meio de aspiração,
das células da região da bacia. Num ambiente específico, as células se
reproduzem e depois de quatro semanas são reimplantadas no corpo, mais
especificamente no local lesionado. “Para esse transplante, buscamos
utilizar controles rigorosos que garantissem a segurança no
desenvolvimento dessas células”, completou a pesquisadora Milena Soares,
da FioCruz.
O procedimento de transplante tem à
frente o coordenador do Serviço de Neurocirurgia do HE, Marcus Vinícius
Mendonça. Desde agosto de 2010, vinte pacientes paraplégicos voluntários
participam da iniciativa, que tem como objetivo a recuperação de
movimentos comprometidos. Vale salientar que este é o primeiro estudo em
trauma raquimedular do Brasil, que utiliza culturas de células-tronco
mesenquimais.
Por: Carmen Vasconcelos
carmen.vasconcelos@redebahia.com.br
carmen.vasconcelos@redebahia.com.br
Fonte: Correio 24 horas
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