André
tem problemas para entrar no vagão do novo trem do metrô por causa de desnível
acentuado Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo
RIO
— Em março deste ano, André Melo de Souza surfou a famosa onda formada pela
pororoca, no Rio Mearim, no Maranhão. Praticante do surfe adaptado, Andrezinho
Carioca, como é conhecido no esporte, é cadeirante e não teve dificuldade tanto
em vencer a força da água quanto em se deslocar numa cidade como a pequena
Arari. Mas, ontem, no Rio, durante um teste proposto pelo GLOBO, a dificuldade
apareceu: para conseguir entrar num vagão do novo trem do metrô, André precisou
de habilidade extra. O problema: um desnível de cerca de dez centímetros entre
a composição e as plataformas das estações.
—
Essa diferença de espaço, para quem não tem a mobilidade que eu tenho, é muito
considerável. Para entrar, precisei dar impulso e empinar a cadeira. A maior
parte do segmento de pessoas que vivem em cadeira de rodas não faz isso. Creio
que 90% dos cadeirantes não conseguiriam entrar no vagão sozinhos — afirma o
atleta que, em algumas estações, como a de São Cristóvão, enfrentou também a
distância excessiva entre a plataforma e o trem.
Em
agosto de 2000, André andava de moto quando sofreu um acidente e teve uma lesão
medular. O interesse que tinha por esporte continuou depois disso. Já na
cadeira de rodas, jogou handebol, basquete e fez parte da seleção brasileira de
remo antes de ingressar no surfe. Sua capacidade de mover-se é, por isso, maior
do que a da grande maioria dos cadeirantes. Durante a viagem de metrô com
André, outros passageiros comentaram que, inclusive, a diferença de altura será
prejudicial para todas as pessoas com alguma dificuldade de mobilidade, como
deficientes, idosos e gestantes.
André
viajou com uma equipe do GLOBO, no fim da manhã de ontem. Ele pegou o metrô na
estação Del Castilho e foi até a do Estácio. Em todas as outras paradas do
trajeto — Maria da Graça, Triagem, Maracanã e São Cristóvão — foi constatada a
mesma diferença de altura entre a composição e a plataforma. Na estação de São
Cristóvão, especialmente, a distância também era mais acentuada do que nas
outras. André lembra que o problema vai tirar a independência de muitos
deficientes:
—
Apesar de ser atleta e ter agilidade com a cadeira, eu mesmo, às vezes, preciso
da ajuda de alguém para entrar no metrô, especialmente quando está mais cheio.
O acesso de cadeirantes nos transportes públicos é sempre muito difícil. No
trem, por exemplo, a distância ainda é maior do que aqui. Por isso, ter mais um
novo problema, este desnível, só dificulta um processo que já é muito
complicado. A habilidade que eu tenho não é a realidade de todos.